sexta-feira, março 08, 2019

Entre O querer ser e O ter

Este texto é uma republicação de algo que eu fazia em 2007: tinha uma coluna sobre Design no site da TV Rio Sul. Por eu querer reavivar este blog, vou tentar, na medida do possível, reunir esses textos perdidos por aí.

Bem, hoje faço essa postagem para os meus alunos sofisticados, mesmo que este texto não seja tão sofisticado assim. Eles saberão quem são, caso leiam. Aliás, me gabando um pouquinho, tenho por aí gente muito sofisticada que passou por mim e está ganhando o mundo. O segredo do sucesso é falar a verdade! Foi por isso que tornei-me professora.

Segue o texto:

Entre O querer ser e O ter

Nos anos 70 existiu um cara americano chamado Andy Warhol, que ditou uma célebre frase: “no futuro, todo mundo terá seus 15 minutos de fama”. Não se preocupe, meu nobre leitor, não vou nem tocar no assunto BIG BROTHER. Aliás, Big Brother, até parafraseando a Revista TPM, será o meu “não-texto”.

Andy Warhol naquela ocasião, como artista plástico usava técnicas e técnicas de reprodução em escala industrial para fazer apenas um quadro ou até uma série com variações; como publicitário, inspirava-se em latas de sopa, coca-cola e latas de graxa para a sua arte. “LIXO”, diriam os amantes da arte romântica; “EXCÊNTRICO”, diriam os mais curiosos e “diferentes”; “GÊNIO”, diriam os “puxa-sacos” e loucos pela fama. Já os espertos naquela época venderam muito NIKE, abriram boates, lançaram discos e divertiram-se muito com aquele tipo de pensamento. Isso sem contar com o “dono da sopa” CAMPBELL’S, fonte de inspiração para tantos quadros, que sem querer ganhou publicidade grátis estampada nas galerias, livros, revistas etc.

“GÊNIO”! Hoje todo mundo tenta fazer igual. É só dar uma olhada na música, no vestuário, nas paredes... a inspiração para os artistas hoje é o próprio cotidiano, dando aquela “repaginada” em técnica, suporte e manifestação. Por que não usar a tecnologia? Mona Lisa de Da Vinci esses dias mesmo estava lá “toda-toda”, “multimídia-cibernética-cool”, em uma galeria famosa, livremente repaginada por um artista plástico contemporâneo muito “EXCÊNTRICO”; pensei eu, no meu mais simples momento, curioso e diferente da vida: Não é que o primo em técnica de Warhol conseguiu me conquistar pela Mona Lisa do Da Vinci?

Sabe quanto estão pagando pela lente dos óculos do John Lennon? Será que são do John Lennon mesmo? Pois é, essa brincadeira sobre a veracidade ou não de algum objeto, algum quadro feito a partir de alguma técnica senão expressivamente humana é muito interessante nesse nosso mundo da falsificação.

A fascinação pelo artista, pela técnica, pela própria tietagem vale o risco de pagar um grande valor em troca de um pedacinho daquilo que o ser humano julga estar mais próximo do desejo.

Designers trabalham diretamente com o desejo, com a conquista; trabalham com a fascinação, com o desejo de ser. Você já deparou-se com algum produto que não cumpre a função ao que aparenta ter? Por exemplo, uma bota que aparenta ser para treking, mas o acabamento não permite uma boa pisada em uma poça de lama porque molha os pés; o carro que parece que sobe até parede, mas atola facilmente... Essas coisas trabalham o desejo de querer ser alguém, começando por ter algo.

Esses dias uma amiga me disse que acredita que essa história do consumismo vai acabar. Eu disse que não acredito, porque “você pode traçar meu perfil revirando meu lixo ou pesquisando no meu guarda-roupa”. Você não pode tirar o desejo de querer ser de alguém.

Eu por exemplo, moradora de Barra Mansa, queria fundar a associação dos surfistas da minha cidade. Em plenos anos 80, vinha passear na Mesbla com a minha mãe em Volta Redonda e ficava fascinada com os objetos da TUCANO, que eram roupas e acessórios de surf. Entre meus amigos, consumíamos a Revista Fluir, escutávamos Oingo-Boingo e todos nós tínhamos “morey boogye”. Hoje com 30 anos tenho a cara de pau de dizer que só peguei onda uma vez, assim mesmo, ela que me pegou.

Ai, que saudade da Mesbla!
Agora, sobre o capitalismo acabar, sugiro: “vamos nos desprender das coisas materiais”?

Mas para isso vamos precisar de traje do desprendimento:
Saia de hippie = R$200,00
Sandália rasteira = R$30,00
Pulseirinhas rasta = R$50,00
Disco da Janis Joplin remasterizado = R$30,00
Continuar precisando de um designer para materializar seus desejos:
Não tem preço.


terça-feira, outubro 24, 2017

Assusta ou não assusta?

- Kitty, é que você assusta!
- Oi? Explica!
- É que você é autêntica! - ??? (sinal de ocupado)

Quando eu era criança tinha medo de palhaço. Aliás, tinha medo de gente fantasiada. Uma vez a minha professora do prezinho vestiu de Branca de Neve em uma festa do colégio e eu lembro realmente a sensação que tive. Era um mix de medo e admiração. Eu não queria mais voltar à Escola com medo da fantasia. Mas acho que a minha paixão era tanta, que até deixei ser comprada. Ela me levou uma vaca de pelúcia, na qual dormia comigo por longos anos.

Paradoxal essa coisa de meter medo! Esse fim de semana tinha um palhaço do capeta assustando todo mundo numa feira. Eu pensei: "se esse cara vier me dar um susto eu parto a cara dele!" - Desse palhaço aí eu acho bem escroto. Não tenho mais medo da fantasia. Como narrei anteriormente, ela me deixava no limiar do amor e do ódio! Mas ainda odeio susto!

Creio que esse medo é porque ninguém nunca viu. Será? Será um rito de passagem? Será uma necessidade de chegar? Confesso: não sei. Acho que ninguém age com planejamento nas relações. Todo mundo fala que odeia fantasia, que prefere as pessoas autênticas. Será? Bem, no facebook é todo mundo tão lindo...

Sou isso tudo aí que você está vendo! Ainda posso vir de vaca, sapa, pinup, Mônica ou palhaço. Vai depender da maneira que eu perceber o olhar. Fora isso, me encontre no Carnaval. Ali ninguém assusta.

Descobri que posso ser apaixonante. E aí, o que realmente te assusta?


sexta-feira, setembro 29, 2017

Wattsapp: o inferno da era moderna

Eu odeio Wattsapp. Por isso não vou nem começar a chutar cachorro morto pra falar das tias dando bom dia ou do Grupo da Família. Batido. Vou falar do porquê eu não gostar e já definir a regra de etiqueta pras minhas amigas entenderem de uma vez por todas.

Começou com a primeira instalação e desinstalação. Eu não entendia muito bem como o aplicativo funcionava e das ferramentas que evitam os alarmes (PRIIIMMM!!) constantes. Meus amigos criaram um grupo. Chegando em Santa Teresa embaixo de chuva, essa porcaria não parava de piar na orelha de maneira gerundiana, com: "to chegando", "to subindo", "to passando", tá chovendo muito". E eu ali, na porta do mineiro, "tantando" segurar o guarda-chuva, "lendo", "esperando" e olhando a porcaria da chuva "caindo". Novidade! --- PUFF!!! --- Pra que wattsapp??

Logo depois, muita gente já "usando", estava me sentindo excluída, sem comunicação. Sou adepta à conversa pelo telefone ou ao vivo. Percebi que muita gente parou de atender às minhas ligações, mas respondiam os SMSs. É, não dá pra ficar vivendo como hippie da cibernética, desprendida das coisas virtuais. Ainda sem entender muito bem o porquê de ter isso, estava eu lá, instalando novamente o aplicativo.

Brasil, me explica! Por que as pessoas escrevem uma palavra e manda, outra palavra, e manda, outra frase, manda... Prim, um mini-infarto, prim, outro mini-infarto, prim, outro... e assim, óbito!

Uma amiga faz isso.... reiteradas vezes. Eu já expliquei que não tenho estrutura emocional para isso, mas não adianta. Não brigo mais. Mas teve um dia que foi demais... ela estava voltando de uma viagem de avião e ia esperar o ex-marido sair de Volta Redonda, rumo ao Galeão para ir buscá-la. Daí eu recebo a primeira mensagem PRIM!
- Amiga! (pausa)
- Oi!
- O Rafa estava vindo me buscar (pausa de segundos, com sensação de 3 horas...)
Ariana, na TPM, mulher e fofoqueira não atura. Segue a conversa:
- Ele estava trazendo as crianças. - Detalhe que uma delas é minha afilhada.
- Hum? - Eu já PUTA!
- Daí, o carro pegou fogo (pausa de 19 horas).
- Oi?? - Isso o avião pousado, ela sem sinal, mandando mensagem.
- Mas tá tudo bem.

Repito: não tenho estrutura para PRIM! Hoje meu wattsapp é silencioso e eu vejo mensagem só quando eu quero.

Resolvi escrever isso hoje porque esta madrugada, outra amiga, após ter colocado na internet que estava processando uma pessoa, recebeu uma mensagem minha no reservado às 21h. Fui dormir vendo fotos dela em um show. Quando foi lá pelas 23h30, eu, preocupada, vi os dois tracinhos azuis. Caí no sono. Só que não sei o porquê, o PRIM voltou. Depois de eu morta, no segundo sono, à 1 da manhã, recebo:
- Guria (pausa) - penso comigo: "CASSETA!" - Ela é psicopata! (pausa).
O monólogo durou 16 PRIM, mas eu já estava dormindo.

Tem aquelas pessoas que mandam mensagem de madrugada, mas dizem: "era pra você ver só de manhã". Isso me remete aos tempos de MOBI, telemensagem. Lembram? Você ligava para uma central e ditava a mensagem. A telefonista digitava aquilo que ela julgava ser mais politicamente correto. Tinham centrais que censuravam. Não podia palavrão nem notícias fortes. Um dia eu estava em Curitiba e precisava avisar pra minha irmã comprar flores para um enterro de uma colega de trabalho no Rio de Janeiro. Não havia celular. Liguei:
- Central MOBI, bom dia! Diga o número MOBI e a mensagem!
- Dany, a Fulana morreu!
- Desculpe, senhora, não podemos transmitir a mensagem.
- Ok. Hum, Dany, a Fulana vestiu o paletó.
- Perdão, senhora, mas essa mensagem também não é válida.
- Dany, a Fulana bateu a cassuleta.
- Próximo texto...
Ai que saudades do MOBI, ai que saudades da Mesbla!

Voltando aos tracinhos azuis. Tem gente que tira para ninguém saber se leu ou se não leu. Daí eu penso: "que pessoa antipática!" É a Semiótica do mundo moderno! Meu bem, quando você está online, aparece no seu status escrito: "online". Pior, só acho!

Agora, quando você quer falar com alguém pelo telefone, tem que primeiro mandar um wattsapp perguntando: "posso ligar?" Fico com medo de incomodar. Mas nada pior para mim do que ser incomodada pelo wattsapp. Etiqueta própria.

Eu odeio wattsapp.

quarta-feira, setembro 06, 2017

Panela na rua

O título da postagem parafraseia o que há anos é utilizado no Twitter. Tal enunciado gera muitas indagações aos longo dos anos. Para mais esclarecimentos, começou com uma bela foto que fiz de umas panelas que estavam numa calçada na cidade de Andrelândia - MG, só isso. Daí, precisava colocar uma foto no fundo da rede social para decorar a página. Escolhi uma que me agradava bastante, de um belo dia de passeio com papai.

Refletindo sobre a própria obra, o artista às vezes se depara com uma necessidade grande de responder questões. Longe de ser uma obra de arte, mais como uma representação do real, uma fotografia, ou seja, essa em questão me deu um estalo sobre alguns fatos que para foram se tornando verdade.

Pre começar, a palavra PANELA tem uma sonoridade maravilhosa! É um verbete engraçado, aberto, agudo, que soa nos ouvidos da maneira que ela é em matéria: tilintando! PÁNÉLA. Cresci com essa sonoridade, pois, bem sabem as pessoas que me conhecem, meu pai vende essa mercadoria há mais de 60 anos. Na minha casa empilhavam-se aos montes, de todos os tipos, materiais e finalidades de panelas diferentes: caldeirão, frigideira, caçarola, papeiro...

Sou muito fã do Ziraldo e a panela está na cabeça do Menino Maluquinho. Escutava as histórias da Dona Baratinha que casou com o Dom Ratão, que caiu na panela de feijão. Havia também, ainda na minha infância, as Frenéticas cantando dentro de uma panela no Especial de Vinicius de Morais na Globo. Ou seja, a panela sempre esteve no contexto narrativo da minha vida, quase como um personagem.

Interessantes são os diversos significados às palavras utilizadas na língua portuguesa de maneira coloquial. A que mais me vem à tona, senão a de relação direta, é a utilizada para substituir "grupinho". Desde a época de escola ela tem esse destaque, mas eu era uma pessoa que não me associava diretamente a nenhuma delas. Talvez isso fosse uma maneira de eu me manter sempre incluída, e, ao mesmo tempo, livre.

A minha panela sempre foi a da rua. Por isso me afeiçoo por pessoas específicas. Longe de mim querer destituir líderes panelísticos, tampouco segregar as panelas existentes. No mundo atual é necessária cautela para pertencer, pois pode-se ser confundido com mais um no bando.

Brincar de panelinha é bom, mas ficou lá no jardim da infância! Minha panela é da rua!

quinta-feira, agosto 17, 2017

Trocando de pocinha

Fazendo acupuntura, meu médico, perspicaz e pontual em suas colocações, divaga certa vez sobre a troca de poças. No momento isso foi muito oportuno em razão desse resort em Acapulco que estou vivendo! Ou seja, múltiplas poças e uma continuidade infinita de pulos através delas.

Daí, quando recebo esses ensinamentos, julgo serem muito úteis para as pessoas como são para mim. Coisas desse tipo diferem as pessoas mais chatas das mais legais. Nesse caso eu sou a mais chata do universo! Saio repetindo isso a cada conversa. Até que resolvi replicar isso para a família.

Melhor explicar primeiro sobre essa "troca de pocinhas". Ao que me cabe, se trata de um provérbio chinês que diz que temos que ser como água, que escorre de uma poça a outra, tomando formas diferentes. Poeticamente falando, isso é maravilhoso, pois dá a oportunidade às pessoas em transar com pessoas de sexos e gêneros diferentes, por exemplo... (shiii... exagerei?) Bem, e para quem encara a vida dessa maneira, sempre está buscando novas oportunidades de aprendizado. Essa é a essência.

Daí, tem aqueles indivíduos tipo Pepa Pig: calçam suas botinhas amarelas e sapateiam dentro de suas próprias poças de lama para sempre. A água apodreceu e a pessoa está lá até o nariz. Me lembra até aquela história do passarinho quentinho e confortável no meio da merda! Essas pessoas acham que têm o domínio da sua poça, considerando que estão no meio de lagoas paradisíacas...

Ainda existem aqueles indivíduos que nem percebem, e, conforme ressaltou minha irmã: "podemos fazer adaptações a essas poças... colocamos ombrelones, hidromassagem, cama king size, champanhe etc..." - Então, qual foi o momento de aprendizado de vida que ela não entendeu? Penso que Buda, aquele cara gordão, levantava aquela bunda do arroz e ia lá se comportar como água! O que tá faltando? Mexa a sua! Isso vale para afetos, paixões, cidades... leve tudo o que cabe na mala contigo e abra o peito para o novo!

Penso que pular de poça não é tarefa fácil! Aliás, quando a gente pula, é água limpinha, pronta pra lambuzar! Tipo, quem nunca comeu melado... É, estou adorando as novas poças e poças vindouras... Muito melhor do que ter um trampolim pra brincar sozinho em uma pocinha pra chamar de sua!